A Substância

Após ser demitida da TV por ser considerada “velha demais” para sua atriz, Elisabeth Sparkle (Demi Moore) recorre a um sinistro programa de aprimoramento corporal. A substância milagrosa promete rejuvenescê-la, mas resulta em uma transformação ainda mais radical. Ela agora precisa dividir seu corpo com Sue (Margaret Qualley), sua versão jovem e melhorada, e, aos poucos, começa a perder completamente o controle da própria vida. Em um pesadelo surreal sobre a busca incessante pela juventude, A Substância revela o preço oculto da perfeição.

Reviews e Crítica sobre A Substância

Que respingo de sangue, vísceras, misturas fluorescentes, cores berrantes, bundas sexualizadas e produtores repulsivos Coralie Fargeat se atreveu a entrar furtivamente na competição pela Palma de Ouro em Cannes. Ao terminar de assistir The Substance , novo trabalho do diretor de Vingança (2017), você não sabe se sai correndo para tomar banho ou aplaudi como um louco enquanto os restos protéticos de órgãos tumorais deslizam pela sua roupa. Então nem imagino o que o júri deve ter pensado ao contemplar tal festival da Série B sem nenhum pudor e ao mesmo tempo presenciar uma reflexão contundente e necessária sobre o prazo de validade feminino na indústria audiovisual.

Na verdade, o filme que merecidamente devolverá ao estrelato uma Demi Moore (chegará ela ao Oscar?) mais dedicada do que nunca de corpo (acima de tudo) e alma às possibilidades da linguagem cinematográfica é um dos looks mais ousados ​​de todos os tempos. visão da objetificação das mulheres e da sexualização dos corpos canônicos que são jogados fora quando perdem seu valor comercial. E tudo isso sem a necessidade de discursos púlpitos, apenas com a contundência de ser um martelo de dispersão pop, pontos de fuga ao estilo Kubrick (e um certo tapete de corredor) e close-ups extremos aberrantes como uma celebração do cinema extremo.

Nele somos apresentados ao caso típico de O Crepúsculo dos Deuses (1950) ou O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilder em que a fama transitória encontra amigos desesperados. Elizabeth (Moore) não tem mais a aprovação de seu apoiador na televisão, um magnificamente repulsivo Dennis Quaid, cuja boca é mostrada em detalhes como um ânus, e vê o fim de seus sonhos mais perto do que nunca.

Até que lhe ofereçam a possibilidade de recuperar intermitentemente a juventude graças a um soro do Re-Animator (1985) de Suart Gordon e a algumas regras muito claras: o uso do apêndice juvenil chamado Sue (a enorme Margaret Qualley que se junta à festa) é temporário e. deve ser estabilizado e recuperado de tempos em tempos para ser usado novamente.

Obviamente, a nova situação e a obsessão lançarão ao mar o rigor a ser cumprido e provocarão um conflito em que a superexploração de um dos dois acarretará a deformação monstruosa do outro e, com ela, a transformação das leves formas lynchianas . iniciais no cinema La Troma (mas com dinheiro). A partir de uma hora e pouca filmagem (isso é excessivo e um tanto redundante para pior) ele é lançado em um turbilhão de horror corporal de efeitos práticos e nojo variado não visto desde Slither: the Plague (2006), de James Gunn, onde se postula quebrar o recorde de litros de sangue por segundo na tela pertencente àquela obra-prima chamada Braindead (1992) e ainda constitui seu próprio Toxic Avenger (1984) com seios flácidos e multi-teratômicos.

O resultado é o triunfo de uma obra de fantástico desprezo pela superficialidade e pelo olhar masculino em que Emerald Fennell falhou miseravelmente com sua A Promising Young Woman (2020) ou a resposta sem medo de ser completamente brincalhona ao Cronebergian Titane (2021, ) que infelizmente não será possível empatar na premiação. Não há necessidade disso.

Não é de forma alguma redondo (tem um vale significativo em seu terço médio), mas seria possivelmente impossível que um filme em que seu doppelgänger esticado e com seios firmes saia de suas costas pudesse ser assim. Esperemos que o Festival de Sitges recupere esta história macabra e a coloque no lugar que merece: perante uma legião de fãs impenitentes de coisas viscosas e a salvação de um cinema que pode ser tocado e, portanto, manchado.

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